terça-feira, 20 de agosto de 2019

Sequestro na ponte Niterói - A criminalidade está muito além de casos isolados

Todos os dias os noticiários respingam sangue com as noticias mais angustiantes possíveis. Hoje acordamos com um sequestro, um ônibus, trabalhadores e mais um sequestrador, até hoje, um tal de William, mas a partir de agora mais um bandido abatido em uma cena chocante de um dia que deveria ser mais um, como todos os outros.

Ainda não se sabe as intenções de Willian Augusto da Silva, de 24 anos, por que ele teve aquela atitude, e o que acontecia em sua mente nesta manhã fatídica, o fato é que mais uma vez o caso terminou em tragédia.

Ao assistir os noticiários me lembrei de outros casos, um deles foi o do sequestro do ônibus 174, comandado por Sandro do Nascimento há cerca de 20 anos, que inclusive virou filme, e com o desfecho duplamente trágico, com a morte de uma refém, a professora Geisa e do sequestrador. 

O caso Eloá também é uma lembrança forte na cabeça dos brasileiros, a adolescente na época com 15 anos foi mantida em cárcere privado por um período recorde, até a polícia invadir o local e a jovem morrer baleada. Recentemente acompanhamos o Sushiman Santos, funcionário de um restaurante que num surto psicótico fez colegas de trabalho reféns, e foi morto por policiais... Sem contar os casos sem a repercussão da mídia, aqueles que ficam entre os mais próximos dos envolvidos.

As especializações vão acontecendo, mas os resultados não mudam, ainda acompanhamos situações semelhantes com medo de ver um desfecho trágico, e na maioria das vezes assim acontece. É claro que casos isolados como estes são imprevisíveis e complexos, por este motivo é preciso investimentos e seriedade por parte dos governantes, para ser possível cada vez menos vítimas.  

No entanto, vemos uma comemoração absurda em torno do assunto, quando a verdadeira criminalidade é que precisa ser combatida todos os dias e de todas as formas possíveis, a violência precisa ser freada, já que a segurança é vital. Não dá pra fazer show da vida real com atiradores de elite, enquanto vemos noticiários com jovens e crianças mortos com bala perdida na semana anterior, a demagogia não engana mais aqueles que estão informados e com medo. 

O fato é que houve mais uma vez um atentado contra a sociedade e as pessoas daquele ônibus, mais uma vez vitimas em estado de desespero, querendo apenas seguir o trajeto de seus trabalhos e prosseguirem com suas vidas. Mais uma vez o desfecho foi infeliz, e pode até ter sido o mais aceitável em termos técnicos diante da situação em si, mas será que não seria possível imobilizar a vitima sem precisar tirar-lhe a vida? William foi imobilizado da pior forma possível para que defendessem os que eram ameaçados por ele, e eu não vejo possibilidade em comemorar sua morte.

O Rio de Janeiro possui um dos maiores índices de criminalidade do país, a sua capital se encontra em caos na educação juntamente a todos os órgãos públicos, incluindo a saúde e segurança, não dá pra comemorar o abate de uma vida como a de William, um rapaz, que possivelmente era vitima de transtornos mentais, e até aquele momento nunca ofereceu perigo aos que com ele convivia. É no mínimo ridículo o governador do Estado se vangloriar e puxar aplausos da população no clamor da ação, o cara não se enxerga! 

Foi triste e tenso, á todos os envolvidos desejo uma breve recuperação do trauma, que logo se restabeleçam, e que não adoeçam, como Willian. Quanto aos seus familiares desejo o mesmo, que a vida siga sem tantos tormentos, e que disso tiremos alguma lição que nos ajude a nos tornar melhores a cada dia. 



Bell Braga.


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