Por muito tempo ouvi esta frase e confesso, nunca concordei com a carga que ela carrega, muito menos com o simbolismo trazido junto a algo definitivo e concreto, principalmente por se tratar de duas vidas, e não apenas de uma frase.
Desde a primeira vez que ouvi, e
vale dizer que na época eu já era mãe, fiquei espantada e considerei um absurdo
sonoro. A princípio pela “anulação” como mulher diante daquelas palavras, como
se a vida de uma mãe, no caso, ou mesmo de um pai se resumisse em outro ser. Á
primeira vista pode parecer afetuoso falar que a sua vida se resume na vida do
seu filho ou filha, quer dizer que tudo estes pais fariam por esta criança, ou
por este filho. Mas até que ponto fazer de “tudo” por alguém é bom?
Antes de prosseguir já adianto
que, longe de mim dizer que devemos esquecer dos filhos, ou deixá-los de fora
das nossas prioridades, temos deveres mínimos, isto é um fato. Além disso, como
eu já disse em outros textos, a responsabilidade da criação de um outro ser
está além de obrigação ou legalidade social. É preciso pensar em aprendizado,
crescimento, troca de afeto, entre outras funcionalidades importantes de quando
vivemos e passamos adiante a nossa “semente” de continuidade da existência.
Bem da verdade, filhos não
precisam ser isto ou aquilo, podem ser vários sentimentos ao mesmo tempo, e é
por este e outros motivos que a frase em questão é perigosa, e deveria estar
fora da fala e da vida das pessoas. Principalmente por que é uma promessa que ninguém
poderia cumprir, e de muitas maneiras.
A começar pela realidade prática
e racional. Quando você ou seu filho(a) morrer, o outro permanecerá, ele não é
sua vida. Você é sua vida, e o seu filho é extremamente importante, enriquecedor,
etc e tals. Mas ele é outro ser. O seu filho é uma parte importante da sua
vida, mas não é o todo. Esta responsabilidade é uma idéia romântica que sobrecarrega
psicologicamente os dois lados, limita ações, direcionamentos. Além de ser
nitidamente mesquinho e egoísta.
Outro lado de um mesmo fato
Troca-se o desistir por
transferir. Desistir de prosseguir em suas escolhas por si mesma, e transferir a
culpa para a nova “vida”. Quando o correto seria viabilizar, pensar em
possibilidades, fazer de tudo para permanecer em busca de suas realizações pessoais, e
evitar sobrecarregar a si e a este outro ser. Planejamento e adaptações levam
tempo, desistir é imediato.
Muitas pessoas ao ter um filho,
planejado ou não, muda os rumos da própria vida, seja quanto a comportamento,
profissão, visão de mundo e etc. isto é comum. No entanto, estas mudanças
precisam ser de forma consciente, ou a tal idéia de “meu filho, minha vida”, poderá se virar contra a própria criança,
que um dia crescerá, e certamente não fará o que os pais querem, por um motivo
simples: trata-se de outro ser humano, com vontades, percepções, gostos e idéias
próprias, que você ou ninguém poderá ou terá o direito de controlar.
Seres humanos, e a vida real
Logicamente que ao nascerem os
filhos precisam de mais cuidados. É necessário sempre que alguém esteja perto, aos
poucos, após os ensinamentos básicos e à medida que vão crescendo, eles
precisam, literalmente, andar sozinhos. Os seres humanos precisam de muito
tempo para se desenvolverem. Diferente de outras espécies, como os cachorros,
cavalos, entre outros seres que já nascem andando e em poucos meses sobrevivem
sozinhos normalmente. Seres humanos, demoram, no mínimo, dezoito anos para ter
alcançado um patamar intelectual bacana para desenvolver e executar algumas
funções.
Diante disso, temos um longo
caminho de construção social, entre familiares, filhos e sociedade.
Definitivamente somos seres humanos diferentes, com personalidades distintas, e
apesar das semelhanças com os meus pais, me orgulho em dizer que tenho minha própria
essência, e é bom ter certeza de que os meus filhos possuem a deles.
Já é desafiador o bastante
transmitir valores, conceitos de viver em sociedade respeitosamente,
considerando diferenças, sem deixar de validar a própria existência como algo
importante. E mesmo diante de tantas explicações e argumentos, os nossos filhos
podem, muitas vezes ter outra percepção de mundo, porque trata-se de pessoas
diferentes de nós. E embora ter tido o prazer de acolher seus primeiros
sorrisos, acalentar o seu choro, e acordar muitas madrugadas para cuidar da
febre sem motivo aparente, isto não é garantia de nada. A troca é naquele
momento, e só.
Conserve as suas crianças
Crianças são espetaculares, não
apenas por sua inocência, capacidade de adaptação e flexibilidade, elas são também
fortes, inteligentes e ativas. Quando falamos “conserve a sua criança interior”,
é basicamente esta essência criadora e corajosa a qual nos referimos, e quem
consegue isto é intimamente feliz.
Quanto aos seus filhos, criança
ou não, o abrace, jogue os mais diversos jogos, seja no tabuleiro, ou no celular
(deixe ele compartilhar o seu mundo eletrônico contigo), observe aqueles
olhares inocentes de carinho.
São estes instantes que pertencem
a você. Na sua memória, quando se lembrar daquela criança que tanto ama e que
continuará a amar com o passar dos anos. Lembre-se de que você também já esteve naquele
lugar, ali existe alguém, como já existia em você.
Tenha saudade sempre que quiser,
não se culpe, e cuide da sua vida de verdade, você tem uma.
Para o dia das crianças, é desejável
que deixemos que elas sejam crianças, inocentes, mas ainda responsáveis ao que
lhes cabem. É desafiador buscar equilíbrio, mas é este o principal papel da família.
Que seja possível permanecer em busca do que te faz feliz e te causa o riso.
Não os culpe por seus erros, faça escolhas com eles, para eles e apesar deles.
Que você se permita ser feliz na
vida que escolher. E os filhos, na vida que escolherem, com toda autonomia que
merecemos, e a liberdade que alcançamos.
Minha vida, meus filhos e nossas experiências.
Texto: Grazy Nazario.
Parabéns minha amiga pelo texto e pela reflexão!
ResponderExcluirVale a pena reforçar, que os filhos não são propriedade única e exclusivamente nossa.
Criamos nossos filhos para o mundo, e cada um deles, deverá viver sua própria experiência e aprender a tomar decisões e assumir todas as suas escolhas.
É preciso saber o momento exato de liberar suas asas, para que voem como águias e não vivam como pintinhos, sempre debaixo das nossas asas.
Somos seres individuais, cada um realizando suas mais diversas experiências e tudo nessa vida é um eterno aprendizado.
Exato, boa reflexão. Gratidão.
Excluir👏👏👏👏❤️
ResponderExcluirLindooo
ExcluirNossa! Tudo o que estou vivenciando! Incrível. Nos criamos dependência! Temos a pretensão de achar que eles são nossas vidas. Neste momento, minha filha de 23 anos me ensina interpretar melhor está relação! Alguém que eu achava que me dava trabalho. O contrário. Tem luz própria e individualidade. Tão importante para as mulheres atualmente. Bela reflexão amiga querida. Muito me ajudou!
Excluir👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
ResponderExcluir