Perto de completar um mês da morte da cantora Marilia Mendonça, ainda é difícil imaginar como tudo aconteceu, o que poderia ter evitado a tragédia, e as fragilidades do viver em si. E fica difícil enxergar a lição de cada história. Foram cinco vidas, muitos planos, e diversos exemplos a seguir.
Há muitas imagens da trajetória de vida da Marilia Mendonça que nos remete a pensar que lição é possível aprender e realizar. A fragilidade evidente nos últimos momentos antes de sua partida é uma das que ainda me toca, o seu sorriso, a sua ultima refeição, tudo nos faz caminhar para reflexões diante da nossa vida. Fico a me perguntar: Como saber sobre o fim?
Quando será a nossa última refeição, a última vez que nos preocuparemos com as contas a pagar, um desejo de consumo, um problema de família... São tantas as agonias cotidianas atreladas a alegrias e realizações. Como separar o bom do ruim, evoluir e aproveitar os momentos com a intensidade que merece?
É interessante aprender isso ainda agora, e saber viver. Não pensar no ultimo dia, mas viver todos como se fossem o "ultimo" da maneira mais sadia que existe.
Marilia é exemplo de muitas buscas, desde a carreira musical, realizações, pé na estrada, mudanças estéticas, maternidade, vivência na arte e na música. Não tem como dizer, para quem está olhando de fora, que ela não viveu intensamente os seus momentos. Seja em hábitos do dia a dia comum, ou com todo o seu glamour de artista.
Mas nada nos "avisa" que está chegando o fim, ninguém nos diz: aproveita! Nem a última vez que vamos comer aquela saladinha na hora do almoço, muito menos a última gargalhada ou a última música cantarolada. É só mais um dia. Sempre parece que a próxima cena virá. E creio que é proposital, ou viveríamos um caos na terra.
Além de artista, uma inspiração
Falar de Marilia Mendonça hoje transcende a questão musical, é falar de superação, sonhos, luta... A mulher é exemplo até depois que morre. Afinal, quem disse que você não pode ser feliz e realizar seus sonhos sendo mulher?
Eu não sou conhecedora de todas as suas letras, na verdade não sou muito fã de música sertaneja, mas sempre fui fã de mulheres como Marilia, que roubam o palco, a cena, e estremece a coisa toda.
Marilia está além do cenário musical porque não se trata só de música, mas de representatividade feminina, diante da sua vida, e de como é possível viver o que se tem vontade. Mulheres podem traçar um destino, e viver ele como tiver vontade de fazer isso.
Marilia é especial. A contradição acontece entre a vida e a arte que ela canta e encanta nos palcos, em suas letras ela não tinha vergonha de expor o quanto somos vulneráveis diante das decisões do amor, por exemplo. Marilia não dizia: Deve-se ou não fazer isso ou aquilo, ela só dizia: É isso aqui que acontece, agora olha minha amiga, e veja se vale a pena seguir nessa vibe ou partir para outra!
Suas músicas não catavam como a condição social limita as mulheres, como as tornam inseguras, nem mencionava a criação de tudo isso. Ela ia para a realidade de hoje, o presente, é como um “tapa na cara” vindo daquela amiga que te gosta, quer te ver bem, e vai logo ao ponto. Em suas canções, Marilia diz o que existe do lado da mulher que está sendo traída, abandonada para que o parceiro fique no bar, ela descreve também como bate o coração de uma prostituta abandonada e descriminada por ser quem é, além da infiel, a romântica, entre outras.
O lado dela
O lado das mulheres representado por Marilia são muitos. Durante muito tempo todo o cenário musical era composto por homens, aos poucos as mulheres foram ocupando espaço, e cantando seus sentimentos, o que de fato sentia por si mesma. Mas quando falamos de música sertaneja, a demora foi maior, poucas mulheres conseguiram se introduzir e se manter, muito menos se consolidar. Não existia “simpatia” por aquilo que mulheres produziam, mas aos poucos esta realidade foi mudando.
Existe outro lado, mulheres sofrendo, pessoas que sentem e querem colocar este sentimento para fora, e até então não foram ensinadas a fazer isso. A tal “sofrência” também serviria para se libertar de algo ruim, a tal cantoria deixava as meninas mais calmas, elas se viam ali, não era sobre outras pessoas, mas sobre elas. E assim, como quem não quer nada, a vida de Marilia também não serviria de inspiração para perceber o quanto você merece por ser quem é. São possibilidades, opções que aprendemos a perceber a partir de suas mudanças e buscas, afinal, as suas transformações foram muitas, mas a sua essência permanecia ali.
As suas letras são compostas no presente, Marilia nos faz sentir que vale a pena ser feliz, fazer o que sente vontade, ainda que, depois a gente se arrependa, e que veja ele “trocar de calçada”, ou que fique cantarolando o problema de “não casar”. Fato é que chegará o dia em que ele te mandará mensagens e você estará em turnê de shows com as amigas! O que vale é a canção, se divertir, e ser feliz.
Fonte: Internet. |
A Partida
Infelizmente a tristeza de sua perda ainda é maior que seus ensinamentos, mas tenho certeza de que com o tempo isso irá melhorar. O simbolismo de sua partida feliz da vida, esperançosa, cuidando da voz, da saúde, acreditando no que ela merecia, sendo intensa com a vida que escolheu. Com o tempo daremos valor a estes sorrisos honestos, mesmo quando ainda não forem os últimos, nos desculparemos com as amigas, valorizaremos as emoções de estar com quem amamos, cantaremos o amor, vivendo cada pedaço que nos é possível.
Marilia voou e por lá ficou, a sua falta será tanta que chega a apertar o peito e encurtar as palavras. Ficaremos a imaginar por que tão cedo, e a torcer para que ela tenha tocado o coração de outras mulheres, que se inspirem e que tenham entendido a sua mensagem. A arte é um canto eterno.
Texto: Grazy Nazario
Meus parabéns pelo texto
ResponderExcluirGratidão.
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