Aos poucos a vida vai voltando ao antigo normal, e as pessoas voltam a ter acesso à exposições e mostras de artes. A dica cultural desta semana é uma exposição de fácil acesso e muita reflexão.
Projeto À meia luz na pele
Esperando e pensando no fim da pandemia covid19 e nos altos números atingidos pela doença, é mais que natural esta vontade de sentir o retorno gradativo das atividades normais. Mas diante de uma exposição intensa como a que apresentarei é inevitável pensar em outros números alarmantes durante este período, o aumento da violência doméstica e relações abusivas. E é neste cenário que somos colocadas, com um trabalho incrível, bem pensado e planejado, ao alcance de muitas pessoas, afinal não é só em museus ou espaços de arte que devem existir estes trabalhos, ou pelo menos, não deveria ser.
Sem mais delongas, vamos à exposição em si.
Entre imagens, textos, luz e pele, nos vemos diante de expressões reveladoras, que nos faz divagar frente às obras com inquietação. É mais ou menos assim que nos sentimos diante do projeto á meia luz na pele, a exposição traz a tona um retrato difícil, cruel e verdadeiro quanto a mulheres vitimas de relacionamento abusivo.
São imagens representativas, mulheres de corpos, e cores diversas, mas que carregam em comum os abusos direcionados ao gênero feminino. As frases projetadas em seus corpos se complementam aos olhares, e nos causam sensações únicas, já que é possível se enxergar em cada uma delas, seja por ter vivido algo parecido, ou por conhecer alguém que já viveu. São frases angustiantes, mas que está em nosso cotidiano. E por que não percebemos o quanto alguns comportamento podem ser duros e abusivos?
É a partir desta sensação perturbadora que nos vemos de frente ao "espelho". Pensando em relacionamentos anteriores, e atuais, e em como é possível se enxergar diante de algo que nos consome a ponto de limitar a nossa percepção. As reflexões são as mais diversas, e as conclusões também, o fato é que mesmo causando certo incomodo inicialmente, em seguida vamos nos percebendo em uma aura de "união" e empatia com aquelas mulheres, e todas as outras que também vivem ou já viveram situações semelhantes, e em como poderemos ajudar umas as outras nestas e em outras desconstruções, além de passar a pensar no que seria autocuidado, e como é possível faze-lo.
"Passando para avisar que você não é fraca, minha amiga! Que você é um mulherão da porra! Potente! Linda, talentosa, criativa, generosa e amada. Não deixe ninguém dizer o contrário de você! Jamais! E se disserem, olhe bem para a pessoa e entenda que a fala é um espelho dela mesma. Se levante e vá embora. Não deixe que a insegurança do outro te diminua. Você é grande! Gigante! Não se aperte para caber em espaços pequenos que não são o seu endereço. A tua morada mais bela é você mesma. Saia da clandestinidade. Volte para sua casa de paz interior. Onde você é luz, é sol, é amor.
Torço muito para que enxergue isso o mais rápido possível."
Sobre o Projeto
Ao buscar informações sobre a mostra e os caminhos que a fizeram estar naquele espaço, verifiquei que se trata de um projeto idealizado a partir de uma pesquisa da atriz e produtora Chica Portugal iniciada em 2018 sobre relacionamentos abusivos sofridos por mulheres. E para minha surpresa e admiração encontrei no site outros trabalhos relacionados ao tema, e que ampliam o nosso olhar diante das realidades singulares dessas mulheres. O projeto trabalha também em outras linguagens artísticas, além da fotografia, existem vídeos, documentários, teatros e textos disponíveis para leitura e apreciação.
O site relacionado à mostra também nos oferece caminhos possíveis para denúncias, orientações e informações sobre o assunto. Lógico que estamos distantes de ter o respeito merecido pela sociedade de modo geral, no entanto iniciativas como estas são provocativas e reflexivas porque causam o incomodo necessário para buscar a mudança, e quando as pessoas decidem mudar, o mundo tende a se transformar.
Atitudes que valem a pena
Podemos começar pensando nessas mulheres como em cada uma de nós, se corrigir e decidir não julgá-las, ter empatia. Elas são nós, a vítima deve ser ouvida como você gostaria que te ouvissem, as pessoas merecem este benefício, e não apenas os homens. Entre os problemas de uma sociedade julgadora, e que tende a culpabilizar as mulheres, é que estas pessoas recebem esta informação durante a sua construção social, e em seguida passam a fazer parte de todas as esferas sociais, seja na área da justiça, saúde, educação, e etc. Diante disso, ao se tornarem adultos e adultas se sentem a vontade para julgar e condenar mulheres, e muitas vezes por motivos que não condenariam homens. Precisamos quebrar este ciclo de repetições que tendem a praticar injustiças.
Sendo assim, não tem como ensinar o seu filho a não respeitar as mulheres como seres humanos, e esperar que outros homens vejam isso na sua filha, deveria ser uma informação igual para ambos, e assim uma mudança maior para toda a humanidade. Não é errado pensar de forma equivocada, mas é erradíssimo reconhecer o erro e continuar a fazer igual, são os pequenos gestos e atitudes que mudam o nosso dia a dia e transformam o nosso futuro.
Frases de impactos, e olhos comunicadores. Vídeos de denuncias, encontros e desabafos. É a resistência que segue em cada mulher, e a esperança de tornar possível viver sem traumas, e contribuir para que outras não vivam esta realidade.
O trabalho nos informa com arte, dados e denúncia. Diante da chocante realidade a sociedade precisa enxergar aquilo que nos mata, ou nos fere ainda em vida, e o silêncio também nos mata.
Dados da exposição
A exposição aconteceu em algumas estações do metrô da cidade de São Paulo e no Shopping Tatuapé Boulevard, estava previsto para término no mês de Julho de 2021, no entanto, permanece.
Para mais informações, consulte o site do projeto - Clique aqui: Site projeto à meia luz na pele
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