terça-feira, 2 de junho de 2020

As essenciais invisíveis

Mulheres na linha de frente contra o Covid19. Trabalham de olho no reconhecimento e melhores condições de conciliar a profissão com a vida familiar


    É fato que a realidade da sociedade está mudando aos poucos, muitos já compreenderam que não cabe apenas à mulher as responsabilidades de cuidar e manter as atividades de uma família, seja qual for a sua composição, ou quantas pessoas nela possuem. No entanto, a junção nomeada "família" precisa urgentemente tomar a forma da sociedade atual, o modelo do século XIX, presente em dias atuais não atendem a demanda necessária da população. Em suas diferentes classes sociais e todas as ramificações quando o assunto é desigualdade, as mulheres da classe trabalhadora vivem isso de forma cruel e desgastante, a realidade precisa mudar, e deixar de sacrificar as suas mulheres. É a consciência vindo á tona, é preciso dar um basta!


Vivenciamos atualmente tempos difíceis, o evento da Covid 19 espalhado pelo mundo além de apavorar, exterminar e imobilizar as pessoas trás consigo outras realidades percebidas, ou ao menos salientadas a partir de sua existência. Diante dessa realidade, vale lembrar que estas mulheres, em sua maioria possuem famílias, e são encarregadas quase que, de forma natural a "dar conta de tudo". Mulheres profissionais da saúde ou não, precisam trabalhar e conciliar a dupla jornada com o isolamento social, e tudo o que a pandemia esta provocando na vida das pessoas. São novos tempos e modos de viver, mas nem para todos. As funções domesticas e de cuidados continuam nas mãos de quem sempre esteve, como se fosse o normal e devido, mas não é. 

As profissionais da enfermagem são um ponto a mais nesta questão, além de conciliarem a realidade hospitalar de um cenário terrível, muitas vezes tratadas como máquinas. Não pode, demonstrar as emoções, sentir cansaço, se descuidar... As chamadas "heroínas", são tudo isso mesmo, e com elas toda a equipe da saúde, desde o antedimento até todos que fazem um hospital funcionar como deve ser. No entanto, a maioria dessas mulheres possuem famílias, e seja qual for a formação familiar que possua, seu fardo costuma ser excessivamente pesado. Elas são heroínas no atendimento, e estendem o cuidado ao lar. 

Este mesmo modelo familiar se estende por diversos lares, trabalhando na área da saúde ou não, como de costume há uma mulher que faz tudo! É chamada de guerreira e tudo bem, Mas não esta tudo bem. Os tempos estão mudando e a condição da mulher não muda neste aspecto, em nada é alterado as condições para que seja possível ter o minimo de qualidade de vida para as trabalhadoras. 

Nos vemos em um novo cenário, todos em casa, vivendo rotinas diferenciadas, mas a mulher que continua a trabalhar, deve aprender a lidar com a escola dos filhos, alimentação, cuidados básicos, entre outras novidades. Carregam preocupações com cuidados redobrados para evitar uma possível contaminação das pessoas com quem mora, e são heroínas?

Ser heroína é fazer tudo sozinha e receber um, OK!?

Lógico que sabemos que alguém precisa fazer este papel, esta manutenção deve ser feita por alguém. Mas por que apenas por mulheres? Até quando este fardo nos será repassado de geração em geração como se pertencesse a nós a partir do gênero! Somos seres humanos como todos os outros, não possuímos super poderes, ou força extrema que justifique dedicar 21 horas semanais às funções domésticas enquanto os homens dedicam 10 (Fonte IBGE). Os homens também trabalham, e se cansam, mas não são mais os únicos "provedores" do lar, e se este papel esta sendo dividido, nada mais justo e óbvio ambos terem responsabilidades equivalentes nas outras áreas, inclusive no que diz respeito aos cuidados com filhos, e tudo o que engloba uma unidade familiar. 


A sociedade exige uma funcionária excelente, psicológico nota 10! Centrada, equilibrada, bem vestida, muito bem cuidada esteticamente e com disponibilidade ímpar para dar conta do seu trabalho com a dedicação e engajamento que a profissão exige. Assim também, cobram mães participativas na vida dos seus filhos, e conscientes de sua responsabilidade diante da criação de um ser humano.        O problema é que todas estas exigências são para as mesmas pessoas, e eu não listei nem a metade. 
Se fizer uma conta simples de horários ou funções, logo se percebe: a conta não fecha! Isto sem contar o fator “ser humano”. 

O modelo capitalista também tem o seu papel de responsabilidade neste modelo contínuo de exploração e opressão construídos á partir de crenças ultrapassadas e infundadas. Então eu pergunto: Qual é o papel do Estado diante dessa realidade? Deixamos as nossas crianças em casa, tornamos possível a engrenagem da produção e o funcionamento da sociedade como ela é, sem trabalhadoras não existe sistema financeiro, econômico e tudo o que isso engloba.
 Imagine se TODAS as mulheres ficassem em casa a partir de agora. Como ficaria o mundo?

Seria interessante que o Estado ampliasse os equipamentos que auxiliam as famílias? 
Hoje temos creches, escolas, entre outros auxiliares ligados à educação.
 Mas ajudaria se existissem lavanderias, locais de alimentação com preço justo, entre outros serviços, que além de gerar mais empregos movimentaria de forma mais abrangente as famílias brasileiras? 
Afinal, para quem trabalhamos de verdade?

Para o momento. Mulher, pare e respire! Reveja o que foi dito para você como certo a vida toda, e reveja a partir da sua realidade. Interiorize nestes tempos de isolamento, e reflita quanto ao que é certo na pratica do seu dia a dia. 

 As pessoas precisam aprender a fazer a parte que lhe cabem, e não deixar tudo para uma pessoa como se isso fosse um legado feminino, porque não deve mais ser assim. Mulheres precisam compreender isso para que as outras pessoas também percebam. 
Praticar e ensinar o autocuidado também é cuidar do outro.
Lave as mãos, se cuide, você não é apenas importante para a sua casa,ou para ajudar as pessoas, você é um ser humano, e também merece descanso e paz. 
Á todas as mães de famílias, o nosso reconhecimento. 
E que siga a luta por dias melhore, em todos os campos.  

Texto: Grazy Nazario. 


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