Quando pequenininha, eu tinha como representatividade as
mulheres que apareciam na mídia, seja na TV, em filmes ou revistas. Essas
mulheres seguem um padrão rígido de feminilidade, que está intrinsecamente
ligado ao ideal de beleza. Esse ideal vai desde o culto à magreza, cabelos
longos, uso da maquiagem, e assim por diante. Mas os pelos corporais, que
também são um fator importante desse ideal, parecem ser esquecidos quando o
assunto “padrão de beleza” é discutido.
Eu me pergunto, então, o porquê desse assunto
ser tratado com certa naturalidade, quando existe uma evidente binaridade
(mulheres sem pelo, homens com pelo) nessa questão. Considero importante,
então, como mais uma ação para destruir esse ideal de beleza feminino, nos
questionarmos acerca do que é a depilação feminina, descobrindo o que ela
realmente representa.
Primeiramente, o “não ter pelos” é uma imagem no coletivo
social do que é a aparência de uma mulher. Ele coopera com a ideia tão
difundida de uma mulher submissa e silenciada, por meio de atributos como a
doçura e ingenuidade (afinal, pele sem pelos = pele de criança). Quando uma
mulher se depila, sem pensar criticamente nesse ato, ela absorve essas
características para si, aceitando o molde de beleza criado pelos homens. Em contrapartida, o “ter pelos” é uma imagem no coletivo
social do que é a aparência de um homem. O “homem” é forte e viril, e essas
características são atribuídas aos pelos. Tais imagens podem ser vistas, por
exemplo, nos heróis de novelas musculosos. Dito isso, quando uma mulher passa a
não se depilar e a mostrar os seus pelos, a ideia de feminilidade é
imediatamente rompida. Afinal, aos olhos patriarcais, o que é ser mulher se não
for para ser feminina e seguir o padrão? Vale lembrar que, enquanto para o
homem a depilação é uma opção individual, seja ela estética ou não, para mulher
é uma imposição e obrigação coletiva.
Ademais, a depilação, junto com o ideal de beleza, põe as
mulheres em uma categoria homogênea. Segundo a regra, devem todas ter a pele
depilada, e a diversidade física e genética é ignorada. Assim como o cabelo,
que são literalmente pelos só que na cabeça, mulheres também têm pelos com
características próprias em outras partes do corpo. Essa diversidade entre os
pelos das mulheres vai desde cor, tamanho, formato ou textura. Tais
características deveriam contribuir não só para a identidade visual, mas também
para conhecimento e pertencimento ao próprio corpo.
Eu, por exemplo, tenho muito pelo. Eles são pretos, lisos e
tem uma textura mais grossa devido ao uso contínuo de gilete ao longo dos
anos. Até que aos poucos, fui parando de utilizar a gilete pelo sofrimento
psicológico que ela me causava. Era como se meu corpo fosse uma floresta, meus
pelos árvores e a gilete uma serra. O sentimento era de estar cortando e
machucando a minha identidade. Até que os pelos (ou as árvores) cresciam de
volta. E aquela vida que estava mortinha dentro de mim, renascia.
Por isso mulheres, a depilação é um ato de auto-violência.
É algo que nos é culturalmente imposto, e que aceitamos inconscientemente.
Devemos nos questionar sobre os nossos pelos corporais e sobre o padrão de
beleza (que dói!) imposto pela sociedade. E que, se for para se depilar, que
seja por opção e conscientemente, e não por imposição. Para mim, aceitar os
meus pelos foi um caminho para a auto-aceitação e o amor-próprio. Afinal, em
uma sociedade que ensina uma mulher a se odiar, se amar é um ato de
resistência! <3
Texto
Nome: Malu Ramalho.
Cidade: RJ (porém, Paraibana)
Idade: 18 anos.
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