terça-feira, 28 de abril de 2020

A representatividade da Mulher Preta no BBB 20


A Thelma é a grande campeã do reality show mais conhecido do Brasil, o BBB 20 um dos líderes de audiência da televisão, embora seja um programa de entretenimento apresentou para o Brasil e para o mundo a representatividade da mulher negra, e isto tem grande valor.




Apesar de o Brasil possuir em sua maioria populacional afrodescendentes a real igualdade não existe, e isto fica nítido em várias situações, como por exemplo, quando vemos a foto da grande campeã em sua formatura, a única negra da turma de medicina. Isto não significa, “ legal, tem uma preta na turma numa turma de cinquenta”, isto quer dizer que muitos outros não estão lá! E não porque não querem ou não batalharam para isso, mas principalmente porque a sua classe econômica não permite, os seus antepassados são em sua maioria os escravos da história, sem posses ou histórico de estudos e feitos.  Pouco se fez, porque não podiam fazer.

        O racismo estrutural é algo tão forte e enraizado que cresce com as pessoas como se tais diferenciações não acontecessem, porque lhes parecem “normais”. Assim, reagir á atitudes discriminatórias é visto como exagero, como se não fosse errado a discriminação, mas percebê-la.  Esta linha de pensamento quer fazer acreditar que as oportunidades são direcionadas à todos da mesma maneira, e é a partir desta visão enganosa que muitas pessoas acreditam existir o tal “vitimismo”. Mas a realidade das pessoas é diferente da sua, e quando elas falam lhe parece desnecessário, mas é preciso saber que as diferenças existem, e embora você não deseje o mal a alguém, não significa que o mal não acontece.
          
           O racismo acontece de forma “sutil” em tempos que é dito não existir. Parafraseando  Angela Davis, numa sociedade racista não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas. Não é porque o empoderamento negro existe que o racismo não está acontecendo, é exatamente para resistir que ele permanece. Enquanto isso, branc@s precisam reconhecer os seus privilégios, parar de fingir que a polícia não para negros em maior numero por uma questão racial, ou que em uma entrevista de emprego a sua cor não gera vantagem sobre um concorrente de pele preta, e que muitas vezes vale mais que um bom currículo. Parem de mentir para vocês mesmos, abram os olhos para a realidade, para que seja possível mudá-la de verdade, sem reconhecer estes fatos fica difícil.

        Falar sobre uma realidade cheia de opressões superações e dificuldades não é vitimismo, racismo reverso que é! Quando alguém que se diz discriminada falar sobre seus dramas, abra os olhos e ouvidos para compreender, você não pode falar sobre o que não vive, tenha empatia. Observe a História do seu país, da humanidade, quem oprimiu quem? Quem escravizou quem? É lógico que não foi você ou eu quem fizemos isso, mas precisamos compreender através destes estudos que uma parte das pessoas continuam a ser discriminadas e prejudicadas por estes antepassados, enquanto a outra parte é beneficiada, seja por ser agraciada pela cultura ou por heranças materiais diversas.
         
           Diante de tantas associações criadas ao longo da humanidade, mais que buscar oportunidades ao longo de sua existência, peço licença para usar a expressão, o povo preto se vê necessariamente obrigado a quebrar preconceitos, velhos hábitos e certezas disfarçadas de “brincadeiras”.  Não é brincadeira quando todos não riem e alguém se ofende. Defender-se de situações racistas não é se fazer de vitima, é ser vitima.

Mas você torceu pela participante Thelma por que ela é preta?

SIM! - Mas não apenas por isso.  

      Acompanhar a trajetória de uma mulher preta e presenciar a sua determinação e o reconhecimento por parte do público significa que as pessoas estão conseguindo compreender a dívida da humanidade em relação ao povo preto. Quando alguém que não tinha direitos passa a ter algumas pessoas querem enxergar como privilegio, mas privilégio é não precisar lutar por eles. A menina preta quando olhar a médica Thelma, a bailarina ou a milionaria vencedora do BBB, será capaz de se enxergar ali, se verá como capaz, representatividade é isso. 
          
          Em nenhum momento carrego a intenção de diminuir os esforços e competência da participante Thelma, seja ao cumprir suas metas e sonhos pessoais ou acreditar em si e confiar em sua dedicação e carisma, ao contrario, isto merece ser comemorado e servir de estímulo para outras pessoas. No entanto, não podemos negar o que existe por detrás da vida de uma pessoa preta, as suas reais dificuldades diárias em todos os setores possíveis, e isto não é ser coitado, isto é real, o racismo existe.

        Aqueles que não possuem uma estrutura familiar bacana jamais conseguiriam estudar medicina, mesmo que quisessem muito, ainda que recebessem uma bolsa de estudos de 100%. O curso integral exige dedicação máxima, e para aqueles que precisam trabalhar para se sustentar ou colaborar com a família isto se torna praticamente impossível.


       Não apenas Thelma ganhou, mas o Brasil, a mulher e a negritude. Estamos orgulhosos de você, mulher, e dos brasileiros por terem entendido o quanto isto é importante para a história de uma sociedade, e que a cada dia as injustas sociais sejam quebradas de todas as formas possíveis.



      Á Thelma, que aproveite muito bem o ganho do prêmio e toda visibilidade que proporciona o programa, que a cada dia continuem a ocupar os espaços, que se espelhem em ti, crianças pret@s e branc@s.

Relembrando as palavras de Martin Luter King...

       Eu tenho um sonho, e que seja o sonho de todos nós.
..
...” Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras de "interposição" e "anulação", um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje”...

Para ver o discurso completo clique no link: 


Texto: Grazy Nazario. 

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