O que poderíamos chamar de liberdade? São muitas as definições, mas basicamente seria ter o direito de ir e vir, de decidir, fazer? Teoricamente todas as pessoas são livres, mas eu sinceramente diria, que na verdade ninguém é. Diante disso, a realidade da liberdade feminina poderia ter como referencia os mesmos direitos oferecidos aos homens, mais precisamente á homens brancos e que tenham dinheiro.
Sem mais delongas, e sem me detalhar muito no que eu quero comunicar é que esta tal liberdade de fato, não existe quando se é mulher. Ironicamente não necessariamente é a "sociedade" que nos julga ou nos prende sempre, somos nós também que fazemos isso muitas vezes. São muitos e muitos anos obedecendo, fazendo sempre para alguém, por alguém, sem saber do que se gosta de verdade, vivendo a margem de si mesma. Mesmo quando temos certeza de que não estamos sendo egoístas, uma voz, lá dentro sussurra: "Você vai fazer isso"?
Um dia desses uma pessoa que conheço me marcou no facebook, era dia das mães, ela costuma me falar sobre a relação que mantém com os três filhos e o ex. marido. Isso acontece porque em uma ocasião eu falava sobre a libertação da mulher que opta por si, independente do que as outras pessoas esperam como convencionais, elas escolhem diferente. Comentei isto com esta moça, sem saber que a sua historia de vida era muito parecida com isso. Ela ficou feliz de ter alguém que a "entendia", sentiu-se acolhida, e eu fiquei feliz por ter conhecido alguém de atitude por si mesma, bom que isso é real, eu disse e continuo a dizer.
No entanto, não vivemos sós, precisamos por muitos motivos nos aliar a pessoas, e seria muito bom que estas nos compreendesse. Afinal nos importamos com o que pensam, é importante ter com quem contar, e nos sentir amparadas de alguma forma, aquela sensação de que não estamos sós, isto nos fortalece. Esta moça me fez pensar nas consequências de uma sociedade conservadora e sempre condenatória com as mulheres, disso nós já sabemos. "Eles podem tudo, e nós podemos pouco ou nada."
Mas faz muito tempo que esta frase não circula mais por minha mente, gostaria através deste texto e minhas palavras mostrar para cada mulher que podemos ser fortes, e cada uma em seu cantinho não estará só. Quando muitas mulheres de muitas idades e gerações se compreendem e estendem a mão umas as outras coisas boas acontecem. E isso não esta só na minha mente, são muitos componentes que nos tornam seguras, e ora estamos, ora não, como todas as pessoas. Primeiramente precisamos ser reconhecidas como pessoas, seres humanos mesmo, e junto a isso dissipar qualquer desigualdade de classe, cor, raça e etnia, isto é possível. É preciso olhar com mais carinho para as nossas "irmãs" de gênero, e sermos generosas com todas nós.
O preconceito com a mulher livre e suas escolhas é tão real que chega a deixar a alma dolorida, e mesmo quando ninguém nos diz nada, seja porque nos cobrimos de uma armadura cheia de respostas prontas, ou porque acreditamos com doçura que estamos a fazer o melhor, é muitas vezes aquela vozinha cruel que o mundo nos ensinou a ter que costuma nos castigar, e é a ela que precisamos aprender a silenciar.
A moça que eu citei deixou os três filhos com o pai e foi trabalhar fora do país. Antes de ir ela se preocupou em colocar eles em uma escola próxima da casa do ex. marido (ao qual elogiou muito, já que foi neste momento que nos conhecemos). Também fez diversas orientações, sofreu, mas estava decidida, não deveria perder esta oportunidade aos 23 anos. Eu achei incrível a sua determinação, e pensei comigo: Quantos homens teriam estes cuidados como ela estava fazendo? Sem falar do sofrimento, a insegurança estampada no seu solhar e nas suas mãos trêmulas. Era um misto de esperança e dor. Qualquer separação seria dolorida, é sempre ruim se despedir, mas quando se é mãe existe também a condenação social.
Por que afinal isso deveria ser dessa maneira? De qualquer forma os filhos não morariam com ela, pois o pai fazia questão de que morassem com ele, e por motivos financeiros ela decidiu que toparia. Ela ficaria inicialmente dois anos nos EUA, juntaria uma grana, viveria novas experiências, que devido a gravidez aos 17 anos não foram possíveis antes. E por que algo assim deveria ser condenado por ela ou por outras pessoas? O que de fato há de errado em fazer algo dessa natureza? Ou o problema só existe quando se é mulher?
Caso a situação fosse outra também não caberia a ninguém julgar ou tornar mais difícil a decisão das mulheres, este é mais um modo de nos prender, nos paralisar diante de nossos sonhos, como se o fato de ser mãe fosse uma forma de sucumbir com qualquer oportunidade, como se fosse preciso abrir mão de si mesma por ter dado vida a alguém. Não existe companheirismo, respeito ou amizade quando se é mulher? Caso fosse ele que desejasse o mesmo, teríamos a mesma visão diante da situação?
Mas e se ela tivesse morrido? Ou por algum motivo realmente desaparecesse e nunca oferecesse nenhum tipo de participação na vida dos filhos, o que neste caso não aconteceu. Ninguém se importaria com as crianças, porque na verdade o que está em jogo não são os filhos, ou qualquer outra coisa que eu citei acima, o que vale é perturbar e condenar a liberdade feminina, seja de qualquer forma que ela acontecer.
Cada pessoa deveria ter o direito de pensar e decidir com liberdade o que é melhor para si e para os próprios sonhos, e isto se estende a qualquer decisão da vida, ao invés de dificultarem ofereceriam assistência. Assim agiria um pai que ama os filhos, e uma família que acredita na liberdade e possibilidade das pessoas. Afinal todos gostam de saborear do nosso sucesso, mas poucos topam fazer parte de verdade nisso?
Depois de dois anos eu a vi, não perguntei muito sobre a situação em si por falta de oportunidade, eu deduzi tudo por minha vida, e pelas cobranças que eu sentiria em relação a mim, a partir do que vejo as pessoas fazerem.
Quando se preocupam com as crianças o foco é como fazer para tonar melhor a vida delas, jamais julgar as decisões da mãe, pois isso não cabe a ninguém além dela mesma. Costumam tratar a maternidade como um fardo, algo que devíamos carregar na alegria e na tristeza, quando na verdade não se trata disso.
Ser mãe é estar em aprenderes constantes, a continuidade da humanidade nos capacita com saberes diversos, troca de afeto, responsabilidade e muitas outras questões, e todos estes significados já tiverem definições diferentes em outros tempos, pois quando se trata de ser e estar falamos de cultura e ela se transforma sempre, a cada instante.
Eu desejo realmente que ela, a moça livre que me inspirou em personagens diversos tenha vivido com intensidade cada momento, e que continue se permitindo. E a todas que sentem desejos e sonhos, não se fechem para oportunidades, não sinta culpa por ser feliz, quem deve culpar-se são aqueles que condenam a liberdade, pois não tem coragem de vivê-la.
Aquilo que for direcionado a nossa própria realização, decisão ou vida será julgado, simplesmente por que não nos querem livres ou felizes. A revolução maior é dentro de nós, quando a nossa liberdade não traz culpa, e sim satisfação.
É a consciência que nos liberta, a culpa é só mais uma maneira de nos manter presas, livre-se dela.
Texto: Grazy Nazario.
Imagem: @Ilustrathata. |
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