quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Geração Mudança - Feminismo na Escola

A cada dia surgem novos grupos exigindo mudança e respeito quanto aos direitos direitos das mulheres. Estão em todos os cantos, de idades diversas e classes sociais, e aos poucos se dão conta de que são os responsáveis pelas transformações sociais que interferem no cotidiano de cada um. 

A EMEF Sérgio Milliet localizada na zona leste de São Paulo é mais uma das unidades escolares que fala abertamente sobre gênero e sexualidade. O assunto esta na boca de meninas e meninos, a cada momento uma nova discussão, construções e desconstruções de conceitos e culturas que a cada dia se transformam, e nos toca como algo realmente importante.

Em visita a escola as estudantes nos apresentaram o assunto que esta mexendo na rotina da escola, o feminismo é a pauta. A ideia de igualdade torneia as meninas, e para orgulho de professores e direção, a iniciativa partiu de um trabalho escolar. O TCA (Trabalho Colaborativo Autoral), este trabalho faz parte da grade do ciclo autoral das escolas Municipais de São Paulo. Os alunos escolhem os temas a ser trabalhado e pesquisado, uma espécie de prévia para o TCC (Trabalho de conclusão de Curso) que se tem conhecimento no ensino superior. Esta é uma forma de proporcionar aos estudantes interesse e resultados a partir de pesquisas, e despertar o interesse em assuntos de seu cotidiano.


O grupo do TCA da EMEF Sérgio Milliet é formado por cerca de 15 garotas, que se sentem a vontade para iniciar assuntos relacionado ao tema. “Não podíamos usar nenhuma roupa que tínhamos vontade, fosse frio ou calor, nada era permitido para as meninas”, esta foi a citação de uma das participantes, e segundo o restante do grupo, foi a partir daí o interesse em falar sobre o assunto.  
Em outros relatos as reclamações são desde as mais simples às mais complexas, sobre comportamento, expressões, até aborto, e atitudes que antes lhes pareciam normais, agora são insustentáveis. O assédio dos meninos é um assunto muito mencionado pelas garotas, e também foi algo que impulsionou o grupo, a força se tornou tão real a ponto de quase causar a expulsão de um de seus colegas de sala. Diante das alegações de assédio e toque ao corpo das adolescentes, além das famosas “cantadas”, e tentativas de beijos forçados, a direção se sentiu na obrigação de tomar uma atitude.

Algumas declarações são realmente preocupantes, meio a palavras inflamadas: “Ele não respeita ninguém”, disseram elas em coro. “Simplesmente diz que vai te beijar, e, e nos deixa com medo”. “Um dia cercamos ele no pátio, todas nós juntas, ele ficou pálido. Dissemos a ele que aquilo não estava certo, e que ele não poderia fazer isso com ninguém. Exigimos que ele fosse expulso da escola.”

Quanto a este episódio foi relatado que o menino pediu para ficar, e disse que mudaria a atitude. O grupo entendeu que se ele apenas saísse da escola nada mudaria, e ele continuaria a fazer isso em outras escolas, e com outras meninas. Se estava pedindo uma chance, mostrariam a ele como deveria respeitar mulheres e garotas.

Fatos como estes deixa nítido a importância de abordar estes assuntos, intervir com propriedades de leis e direitos. O emponderamento das meninas é evidente, a esperança em mudanças, e o saber que qualquer mudança se inicia em atitudes que rejeitam o senso comum, que dentre muitas coisas implica em não aceitar atitudes como esta.  

Outro caso contado com empolgação, foi sobre o garoto que usava uma camiseta com frases ofensivas as mulheres. Ele foi parado no pátio, e exigido que a ofensa escrita em sua camiseta fosse retirada. “Se não podíamos usar uma blusinha de calor, como ele poderia usar uma camiseta com frases que considerava as mulheres um mero objeto”. Isto estava errado! Afirmou a estudante.
Diante de algo tão consistente o colega voltou para casa com sua blusa de frio cobrindo a camiseta. Mas a intervenção foi para que ele não a use novamente, mais que isso, entenda que combater o machismo não é questão de opinião, mas de respeito ao outro, respeito ao limite do corpo e da vida de outra pessoa.  

As meninas já fizeram algumas intervenções na escola, apresentações no pátio para os colegas, e conversas nas salas de aula, além de pesquisas para o projeto em si. Mas a maior vitória para o grupo até o momento é o fato de terem conquistado o direito de usar blusa de calor e bermuda nos dias mais quentes. Pode parecer pouco, mas é realmente revigorante sentir que fizeram parte de uma mudança, a alegria é simplesmente encantadora.

 O tema é amplo, envolve além de questões machistas a ordem dos direitos humanos, e questões do ECA, as integrantes se dizem a cada dia mais interessadas e motivadas, e as pesquisas e produção dos textos respaldam as atitudes em torno das questões.

Além dos muros da escola

“Na minha casa tudo está diferente”. Esta fala é de todas as meninas. “Depois que começamos a falar sobre os direitos das mulheres, começamos a ver as coisas de outro jeito”. Disse Micaeli com o apoio das colegas. Este comentário foi sem duvida o que gerou mais confusão durante a escuta, todas queriam falar ao mesmo tempo, como se um “mundo novo” se abrisse, e novas perspectivas fossem possíveis, e hoje todas elas tem certeza disso.  

“Eu questiono as pessoas, por que não concordo quando falam que algumas mulheres merecem ser estuprada por seu comportamento”. “Ninguém merece ser estuprada!” Afirma Sara que contribuiu para escrever um texto do TCA. “Eu defendo os nossos direitos, não podem culpar a mulher por tudo”.

As garotas Naiara, Karolina, Ana Camila, Bianca, Evelyn e Ariane falaram de alguns conflitos que estão acontecendo com mais frequência em casa, como assuntos relacionados as tarefas domésticas e de como isto tem sido problematizado. A Júlia contou como o futebol que tanto gosta de jogar passou a ser aceito de forma mais tranquila pela família, mesmo ainda sendo alvo de muito preconceito por parte dos meninos. Entre outras falas a Vitória, Beatriz, Amanda, Giovanna Alves, Samira, Giovanna Viana e Carine falaram também das questões de responsabilidades sexuais, e como isto ainda é um grande tabu quando se fala da sexualidade das meninas, é ainda algo “proibido”.

Seja na fala das mais tímidas ou das mais expressivas, cada uma a sua maneira se comporta como um grande caldeirão de ideias e abertura ao conhecimento, naturalmente prontas para aprender e ensinar com garra e vitalidade.  A finalidade do trabalho faz jus ao que se propõe, transformar a vida cotidiana através de pesquisas e estudos, e conscientizar os estudantes de que a sociedade somos cada um de nós.

As protagonistas do TCA Feminismo da Escola Sérgio Milliet parecem perceber e nos mostrar que a escola é muito mais que conteúdos a aprender, é troca, pratica e fonte de conhecimentos múltiplos, é o berço da sociedade e suas funções reais.

A professora Mariana, orientadora da turma, finalizou a visita com uma fala emocionante ao mencionar a importância da dedicação das meninas, e como é gratificante participar deste projeto que esta além dos muros da escola, esta na transformação de professores e alunos, e em viver a esperança enquanto colhe a cada dia seus resultados.





Texto por: Grazy Nazario. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog